Durante a 3ª Feira Franca Veg, que ocorreu no último domingo no colégio Pestalozzi, encontramos Leide Fuzeto Gameiro, uma das palestrantes do evento. Leide é cheff de cozinha vegana e voluntária da ONG Animal Ethics no Brasil. Batemos um papo super legal sobre veganismo e alimentação vegana. Confira!
– Quando você se tornou vegana e o que te levou a adotar esta prática?
Leide: Eu comecei este processo tem uns 13 anos, por causa dos animais. Mas fiquei um tempo achando que era vegetariana, consumindo leite e ovos. Como nessa época eu não usava internet, não tinha muito acesso à informação. Portava apenas o conhecimento de senso comum, que, aliás, é difundido erroneamente e faz com que muitas pessoas acreditem que vegetarianos são pessoas que não comem carne.
Quando eu comecei a ler mais sobre o assunto, já com o auxílio da Internet, descobri que existia o veganismo e que eu nem sequer era vegetariana. Então parei de usar produtos oriundos de animais, tanto nos alimentos como no vestuário, na limpeza, higiene, etc. Me tornei vegana e vegetariana ao mesmo tempo.
Logo em seguida comecei a fazer o mínimo de ativismo. Fui lendo, pesquisando e descobri que veganismo não é a luta. A luta se chama antiespecismo. Veganismo é só o padrão de consumo do antiespecista. Se você difunde o veganismo, não há garantias de que as pessoas deixarão de ser especistas. Tem muito vegano especista. Mas se você ataca o especismo, obviamente o veganismo está implícito como forma de consumo.
– Qual a principal vantagem do Veganismo no seu ponto de vista?
Leide: Não existem vantagens pessoais em ser vegana. Pelo contrário, eu tenho dificuldades. Em relações sociais, tenho dificuldades para me alimentar fora de casa, tenho dificuldades para fazer compras… Mas nós não devemos pensar em vantagens, porque o veganismo é o padrão de consumo de uma posição ética que não está pautada em vantagens para nós, opressores. Ela está pautada em benefícios para as vítimas. As pessoas dizem “ah, ser vegano é lindo, você vive melhor, dorme melhor, tem mais saúde…” – não, essas vantagens não existem. Mas entendo que as minhas dificuldades, perto de tudo o que os animais sofrem, não são nada. São problemas que eu nem considero. E essa é a ideia, deixar de priorizar nossa zona de conforto em detrimento da vida deles.
A vantagem é que, quando houver maior conscientização e o especismo for desconstruído, os animais não humanos sofrerão menos. Por enquanto nem eles estão em vantagem, porque nós não fazemos nem cócegas neste sistema de produção que existe para explorar e matar animais. E eles sofrem por diversas causas, não só por conta do ser humano. Ser vegano, ou seja, não consumir nada de animais, é só o mínimo que devemos fazer hoje para que eles tenham alguma vantagem um dia.
– Conte para nós um pouco sobre como você começou a cozinhar alimentos veganos, houve uma necessidade de preparar sua própria comida, já que não era tão simples encontrar, ou foi por curiosidade? Como isso aconteceu?
Leide: Quando criança tinha atração pela cozinha, mas não via isso como profissão. Cozinhava somente o trivial e aquelas receitinhas bem básicas. Quando eu resolvi parar de comer animais, todos aqueles alimentos básicos que eu sabia cozinhar não faziam mais parte da minha alimentação. No início eu fiquei bem perdida, me perguntando o que eu poderia cozinhar e só conseguia pensar em arroz, feijão e legumes. Foi aí que comecei a pesquisar e praticar culinária vegetariana e me reencontrei nisso, no desejo de cozinhar que tinha desde criança. Eu me descobri como amante da cozinha e então fui estudar, fiz Senac e me tornei uma profissional da área. Tudo começou assim, na procura de novos pratos para viver sem matar animais e acabou se tornando minha profissão e minha grande paixão.
– Qual conselho você daria pra uma pessoa que está pensando em se tornar vegana?
Leide: Eu nem dou um conselho, eu dou um ultimato. Acho que se tornar vegano é diferente de se tornar, por exemplo, hipster, punk, emo, gótico. Enfim, é diferente de você pensar em se tornar alguém que está relacionado a algum estilo ou tribo. Ser vegano é uma obrigação moral, as pessoas têm obrigação de serem veganas, no mínimo. Assim como nós temos obrigação de respeitar as pessoas de outras etnias, pessoas com orientações sexuais diferentes da nossa, por exemplo. Se temos obrigação de não discriminar as pessoas humanas injustamente, também temos obrigação de não discriminar os animais não humanos, pois eles são sencientes como nós, animais humanos. As pessoas têm obrigação, sim, de serem veganas. O mínimo é não usar os animais. Esse é o mínimo, ainda tem muito mais coisas para se fazer além de ser vegano, mas o mínimo é isso.
– Conte um pouco do seu projeto Ética Animal Brasil
Leide: Como eu disse, quando me tornei vegana comecei a ler e pesquisar sobre o assunto e fui percebendo que falar em veganismo não é tão eficaz para os animais. Fui percebendo muitos erros na defesa dos animais no Brasil. Conheci algumas pessoas que já pensavam assim há tempos, como o Luciano Cunha, por exemplo, que é um grande filósofo que temos aqui no Brasil e se dedica a pesquisar sobre a melhor forma de defender os animais não-humanos. Acabamos formando um grupo de pessoas via rede social que pensam de forma muito semelhante. Somos poucos ainda, mas já estamos fazendo algumas coisas. Uma delas foi assumir a Ética Animal Brasil, que é a ONG que melhor representa os animais não-humanos na nossa visão. Eu sou só uma voluntária. Faço o pouco que posso, representando a cidade de São Carlos, panfletando e dando algumas palestras.
A Ética Animal é uma organização sem fins lucrativos que busca alcançar um mundo melhor para todos os seres sencientes. Foi fundada nos Estados Unidos, mas realiza atividades em várias partes do mundo, incluindo o Reino Unido, Espanha e América Latina.
O objetivo é fornecer argumentos para a consideração moral dos animais não humanos, promover pesquisas e debates sobre senciência, especismo e ética animal, além de oferecer materiais e recursos variados para que as pessoas possam defender de maneira eficaz os interesses dos animais não humanos.
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